Foi aberta nesta terça-feira (13), no Espaço Cultural Ministro Menezes Direito, no Supremo Tribunal Federal, a exposição “O Olhar de Waldomiro”. A mostra traz 38 obras do artista Waldomiro de Deus e permanece no Tribunal até o dia 31 de agosto, com visitações das 13h às 19h.
O pintor destaca que expor no STF é sinônimo de levar sua obra ao cotidiano de pessoas que não necessariamente frequentam uma galeria de arte, mas que fazem parte da política do país. “Fico feliz em estar aqui por ser um lugar de luz da Justiça para o Brasil”, diz. Seu filho Edemm conta ser um sonho do pai expor as obras nos Três Poderes. “O meu pai faz aniversário no dia 12 de junho, e a exposição inaugurada logo no dia seguinte é como um presente para ele”, conta.
O artista foi premiado em 1983 pelo Centro Studi e Richerche Delle Nazioni, na Itália, e já expôs suas obras em 23 países. No Tribunal, a mais antiga é de 1996, intitulada “Os céus podem esperar”, em que anjos servem um banquete aos homens, cena que Edemm traduz como uma forma que o pai utilizou para expressar que pessoas são auxiliadoras de Deus e podem ajudar umas às outras.
O artista
Considerado um criativo naïf, termo francês que designa artistas sem técnicas acadêmicas específicas, Waldomiro de Deus é original de Itagibá, na Bahia, e começou a produzir telas ainda criança. Ele considera sua pintura algo de fácil entendimento, e opina: “existem obras que não dizem nada, são vazias. Quando a arte não fala, se torna algo insignificante, por isso ela tem de transmitir uma mensagem”.
Há 57 anos fazendo obras de arte, Waldomiro teve de viver eventualidades até se descobrir como pintor. A primeira delas acabou o introduzindo ao mundo artístico. Saiu sozinho de casa, em Itagibá, e aos 12 anos virou menino de rua. Foi parar em São Paulo, onde recebeu abrigo de um sargento e, pouco depois, a oferta de emprego como jardineiro para se sustentar.
O único problema – ou dádiva – foi que o menino encontrou pincéis, guache e cartolina pela casa, trio que o distraía por horas na madrugada. O resultado foram suas primeiras peças de arte e o cansaço que o impedia de cuidar do jardim pela manhã. Acabou demitido e, sem saber o que fazer para ganhar o próprio dinheiro, improvisou sua primeira venda de arte sentado no Viaduto do Chá com as cartolinas ilustradas, e lá descobriu que sua arte era rentável. Vendeu peças a um estrangeiro que passava pela rua e se interessou pelas obras. Depois disso não parou mais, e seis anos depois fez sua primeira exposição individual, na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.
Se pudesse dizer algo ao Waldomiro de sua infância, que teve de cuidar de jardins e engraxar sapatos, o artista conta que ressaltaria: “o trabalho faz a força, é importante na vida lutar para crescer no trabalho. É através dele, sem inveja e sem coisas negativas, que se tem vitória”.
Apesar da infância difícil, Waldomiro retrata belos momentos do cotidiano brasileiro, e justifica esse olhar dizendo que procura sempre o lado bonito da existência. Para o artista, encarar a vida quer dizer ver o lado difícil, mas frisa: “devemos tomar cuidado para que esse lado se torne algo de bênçãos no futuro”.
Confira o catálogo com o acervo da exposição.
CB/EH