Sindicalistas e especialista apresentam experiência da Embraer e alertam para riscos

Os representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (SP), Aristeu César Pinto Neto e Herbert Claros da Silva, focaram suas exposições na experiência de privatização da Embraer para analisar, em retrospectiva, os riscos desse processo. Eles participam da audiência pública realizada nesta sexta-feira (28), no Supremo Tribunal Federal (STF), para debater a transferência de controle acionário de empresas públicas.

Aristeu Neto enfatizou que a Embraer foi privatizada em 1994 por R$ 154 milhões, o equivalente hoje ao preço de uma aeronave de médio porte. O advogado do sindicato também criticou as demissões levadas a cabo pela empresa, e que poderão se acentuar caso seja vendida para a americana Boeing. Destacou ainda os prejuízos decorrentes do acordo de leniência firmado a partir de irregularidades detectadas pelo controle mobiliário da Bolsa de Nova York na venda de aviões Super Tucano para a República Dominicana, Índia, Moçambique e Arábia Saudita para demonstrar que privatizar não resolve problemas como a corrupção ou a má gestão, geralmente usados para justificar privatizações.

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (SP), Herbert Claros da Silva, apresentou, em sua exposição, os riscos que poderão ocorrer se a Embraer foi adquirida pela Boeing. Como trabalhador da empresa, Silva destacou que, ao longo de seus 49 anos, a Embraer resistiu como única fabricante de aviões do hemisfério sul, e não é crível o argumento de que a venda para Boeing seja essencial para que a empresa consiga sobreviver. De acordo com o sindicalista, caso o negócio se concretize, a Embraer restringirá sua produção a trens de pouso e interiores de aeronaves, atividade que demandará mão de obra de apenas 500 trabalhadores, contra os 18 mil postos de trabalho existentes hoje. Herbert Silva defendeu que a eventual fusão entre Boeing e Embraer seja discutida no Congresso Nacional, tendo em vista a relevância da empresa para a indústria nacional.

O professor, engenheiro aeronáutico e aviador Wagner Farias da Rocha afirmou a que transferência de controle da Embraer para a Boeing está sendo apresentada ao público de forma irregular e alertou que se a transferência ocorrer dessa forma o Brasil vai perder a capacidade de projetar aviões, retroagindo ao estágio tecnológico que tinha na década de 1950. “Esse ponto de vista estou apresentado por dever de consciência, como cidadão brasileiro, sem nenhum vínculo com qualquer organização pública ou privada”, afirmou o professor. Para Rocha, é preciso que, nesse processo, não se repita o “complexo de vira-lata” brasileiro, segundo o qual tudo que vem de fora é melhor. Segundo ele, se o processo se concretizar, “o que vai sobrar” da Embraer não permitirá mais que a empresa desenvolva e fabrique aeronaves. Para o especialista, a solução seria estabelecer uma efetiva joint venture contratual e não societária, permitindo que cada empresa mantenha sua identidade, sem transferência de ativos.

VP/RR

Veja a matéria original no Portal do Supremo Tribunal Federal

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